Texto 1
Porque me sinto uma mulher abençoada?
Porque nasci nos “Tempos Idos”, e os meus olhos, acompanharam o salto evolutivo da vida desde então.
Nasci em uma cidadezinha do interior que passava de jovem a senhora. Uns quarenta anos de vida, mais ou menos.
As ruas eram de terra batida a guardar os sinais dos cascos dos cavalos e das carroças e charretes.
As casas, em sua grande maioria eram de madeira. A grande maioria delas sequer havia recebido uma pincelada de tinta. Conservavam o tom da Madeira de Lei. Teto tinha. Forro nem sempre! O chão de tabuas. Normalmente nos cômodos mais nobres que eram os quartos de dormir e sala.
O chão da cozinha geralmente era de cimento, ou de terra batida, mesmo. Havia a sala de banhos do lado de fora. Geralmente este cômodo era apegado à cozinha.
Os banhos eram tomados em grandes bacias, ou tinas. Sanitários, como vocês conhecem hoje em dia, não havia não. O que tinha no fundo do quintal era algo chamado de “casinha” também divulgada como privada.
Cavava-se uma fossa. Sobre a fossa criava-se uma plataforma de madeira com um buraco no meio. Ao redor da plataforma levantava-se um cercado de quatro paredes. Casinhas descobertas não eram incomuns. Incomum era fazer as necessidades debaixo do maior toró. Graças aos Deuses os homens eram inventivos desde os Tempos Idos e tratavam de “cobrir” a bendita casinha. Geralmente a chuva encontrava um meio de vazar pelo telhado. E o vento? Ah, sim, o vento se infiltrava pelas frestas. Não sei se isto era bom ou ruim... Tá, e tinha algum lugar para se sentar na imitação de vaso sanitário, ou era direto no buraco? Tinha. Tinha sim, comumente um trono que não passava de um caixote, também de madeira com um furo no meio. Legal mesmo era o cheiro da creolina, da qual se lançava mão para disfarçar o fedor dos excrementos.
Ih, meu filho, papel higiênico veio muito tempo depois dos Tempos Idos. E quando veio era cor de rosa, denominado Primavera. Hoje ele pode se assemelhar a uma lixa, mas naqueles tempos não! Era um luxo, se comparado com folhas de mamona, palha de milho, jornal e papel de embrulho. Pardo. E, ainda assim, nem todo mundo podia comprar o danado do papel Primavera. Chi meu filho, naqueles tempos a pobreza imperava.
A casa dos banhos também não era assim tão confortável. Como é que se banhava? Não sei dos demais, mas nós fomos ensinados a permanecer do lado de fora da bacia. Primeiro de tudo, e antes de, mais nada, lavava-se o rosto e os cabelos. Depois se umedecia o corpo, e ensaboava e esfregava o corpo com bucha vegetal. Na sequencia jogava-se a água pelo corpo para se enxaguar. Pronto. Agora só falta se secar. Toalha de banho, assim felpudinhas como você as conhece? Ah, meu filho, não tinha não.
O que tinha eram toalhas feitas de sacaria. Pensa que eram feias? Destituídas de alguma beleza. Nem sempre. Tudo dependia da classe social a qual se pertencia e do dom das moças casadoiras. Naqueles tempos, as moças tinham de ser prendadas. E, elas faziam lindas bainhas nas toalhas. As mais prendadas usavam a técnica do Macramê. Que diabos é isto? Ih, é uma técnica antiga meu filho. Você nem sonhava em nascer... isto vem lá da era das cavernas. A palavra Macramê, significa “nó”. É a arte de tecer fios sem o auxilio de nenhuma maquinaria. O artesão faz uso dos dedos através dos quais os fios vão se cruzando e ficam presos por nós, que formam cruzamentos geométricos, criando franjas. Se eu sei fazer? Não, não, isto eu não aprendi. Mas aquele moço chamado Google deve saber...
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