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Estilhaço

Foto do escritor: Edna VezzoniEdna Vezzoni


̶ Crasch! Quem quebrou o espelho? — A voz indagou. — Ih! Fui eu! — Sete anos de azar. — A voz comunicou. — Ah, não! — Sim, sim. — A voz afirmou. — Mas este é o espelho da minha alma, por que sete anos de azar? — Se é o da alma é bem pior! Sete vezes sete vidas de azar. — A voz foi impiedosa. — Quarenta e nove vidas de azar? É isto mesmo? — É o preço. — A voz confirmou. — E se eu consertar? — Difícil consertar o que quebrou. — A voz foi enérgica. — Posso tentar? — Poder, pode! Não garanto o resultado. — A voz foi desafiadora. Ela pegou uma cesta e juntou todos os fragmentos do espelho. Menos o que foi moído. Pedaço por pedaço foi juntando em um mosaico todas as lascas e colando. Sete dias depois, ergueu o espelho e indagou. –— Oi? Veja, refiz o espelho. — Consegue se ver nele? — A voz inqueriu. — Meio craquelada, mas vejo. — Como é se ver assim? — A voz quis saber. — Não é ruim! Me parece até uma obra de arte. — Viu? O azar nem é assim tão ruim. Por conta do seu empenho em se aceitar exatamente como és, libero a sua alma por sete vezes sete vidas. — Tens a minha gratidão. — Nesta vida mostre o seu craquelê e não tema os julgamentos daqueles que “ainda” desconhecem o fato de sermos partículas de um Todo.


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