Lydiane, agora sozinha, fixou os olhos na imagem da Deusa Tríplice e se deixou levar pela beleza emanada de cada um dos rostos da Grande Mãe. Aspectos diferentes de uma mesma mulher. Uma névoa azulada, vinda da janela se infiltrou no templo envolvendo a jovem por completo. Como se a Deusa a estivesse cercando em seu manto. Quando Lydiane olhou para a face jovem da Deusa sentiu-se estranhamente destemida. Voltando os olhos para a face senhora da Deusa, sentiu-se plena e compassiva, mas, ao encontrar a face anciã da Deusa, aquela que representa a sabedoria da vida e que, portanto, a transforma na Mãe Compreensiva Lydiane teve certeza de que aquela não era a primeira vez que ela se punha diante da Deusa. Paz e gratidão, serenidade, e uma profunda saudade se apossou de Lydiane. Inesperadas e abundantes as lágrimas silenciosas escorriam por sua face como riachos livres e indomados. Naquele exato instante ela se deu conta de que as lágrimas não vinham dela, mas sim através dela. Como se ela fosse um canal por onde aquelas águas pudessem se escoar e irrigar os veios da terra. Então ela soube que a Deusa havia cercado os seus caminhos e que ela não teria mais para onde ir, a não ser seguir as trilhas e veredas do mágico encantamento da Deusa. Soube que havia sido chamada para cumprir o seu papel de servidora da Grande Mãe.
Trecho da página 12 do livro “Tecendo a Teia da Vida, por Pina, a Velha”. De Edna Vezzoni
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Me reconheci nela.